quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A escola Ideal


Realizando oficinas em várias escolas, pude perceber que a maioria delas tem uma grande dificuldade de conversar e entender os alunos. Através de atuação e conversas com professores e direção, consegui perceber que há vários fatores para que essa forma de diálogo entre eles não aconteça. Um dos fatores que impede isso é a falta de estrutura familiar que esses alunos vivem em casa. Como muitos jovens são de periferias e comunidades pobres, os pais, e até mesmo os jovens, têm que trabalhar. Com isso, não sobra tempo nem para esses pais conversarem com seus filhos nem, de certa forma, para educar.


Em nossa fase de crescimento e formação, temos o instinto de escolher uma pessoa como referência – aquela história do Super Herói, que nós idealizamos em nossa cabeça quando pequenos mas que, na verdade, é só uma forma de ter uma pessoa na qual possamos nos espelhar para darmos os nossos primeiros passos. Então, em minha opinião, quando esse jovem não encontra alguém da família próximo a ele para ser sua pessoa de referência, ele acaba procurando isso nas escolas. Assim, muitos desses professores nem sabem, mas eles estão diante da tendência a desempenhar dois papéis na sala de aula: além de educar, acabam sendo também uma pessoa referência para esse aluno.


Mas nem sempre os professores conseguem desempenhar esse papel que o aluno espera, ou por não compreendê-lo ou por não querer encarar essa realidade. Entretanto, quando o aluno percebe que isso não ocorre, ele fica querendo chamar a atenção dos professores. Cada um escolhe uma maneira de fazer isso, seja de forma agressiva ou de forma ausente – é o caso daquele que vai à escola, mas não participa da aula como deveria. Isso tudo compromete de forma bem direta a sua educação.


Há ainda muitas escolas que não querem enfrentar essa realidade, porque, com certeza, todas elas sabem onde estão os problemas, mas não sabem como resolvê-los ou, de certa forma, sabem mas não querem sair desse formato padrão de “escola onde o aluno que não está dentro do padrão não faz parte dessa escola”.


Enfim, com toda essa realidade, algumas escolas – cada uma com suas particularidades – estão encarando esses problemas e compreendendo que tem que haver uma mudança drástica no atual formato de educação, e que é preciso levar em consideração todos esses fatores já citados. Temos que pensar, também, que não dá para construir uma fórmula padrão de entender os alunos. O que temos que colocar como fórmula para todas essas escolas é um novo jeito de entender os alunos: tirar a idéia que na sala de aula tem que haver uma hierarquia de professor e aluno, e perceber que na verdade os dois estão lá para uma troca.


Relatei muito a dificuldade dos professores em entender os alunos mas, na verdade, tem que haver uma reciprocidade entre eles para que as coisas comecem a mudar, porque essa mudança não vai ocorrer da noite para o dia, e sim com um grande processo de criação de novas idéias de ambos os lados.


Uma escola ideal, para mim, seria aquela escola que, ao invés de quebrar a cabeça tentando educar os alunos nesse formato atual de educação, desenvolvesse atividades nas quais houvesse uma forma de troca entre os alunos e os professores. E que mudasse também essa denominação e o conceito atual de professor, e tornasse as coisas mais lineares dentro de sala de aula.


Sei que essa mudança não é fácil, porque uma escola ideal não existe talvez nunca vá existir. Mas, com certeza, uma outra forma de educar pode ser experimentada.


Por Cristiano Cardoso Soares

Educador social e integrante do Grupo Cultural Entreface